Um vento gélido balançava as árvores da capital do fogo. Vento suficiente para que tivessem que colocar uma pedra em cima daquela pilha de notas esfarrapadas: 1.000RY, prêmio para o aventurado que ganhasse aquela partida de dominó. Fazia frio em Konoha, mas isso era apenas mais um intempere na vida daqueles presentes no beco 45-meia, viela intercruzada conhecida pelos jogos de azar. Hoje, havia apenas uma mesa de madeira com jogo, disputavam ali, cercados por uma claque entusiasmada, o maior prêmio que aquela rua já havia visto. Não menos curiosos do que todo aquele circo eram os competidores. Um magricela careca com a cara cavada, o chamavam de "C4V3R4", era conhecido na região pela sorte nos dados e habilidade com o canivete. Logo a sua frente sentava-se o "Avô", um idoso morador de rua que alguns estimavam ter mais de 110 anos. A esquerda do velho estava Dona Hasana, uma elegante senhora que destoava do público por suas roupas do século passado. Hasana era dona de uma loja de antiguidades logo em frente ao beco, inicialmente detestava o público degradante que frequentava sua rua, porém os anos foram amolecendo-a e agora era já era uma figurinha carimbada da jogatinha noturna. Logo a sua frente, o favorito, claramente com o maior número de peças jogadas, um garoto de mais ou menos 12 anos vestindo um kimono maltrapilho, chapéu de pescador e óculos escuros: era Yoshiru.

Yoshiru não gostava do dominó, "um jogo para bestas..." era o que pensava. Porém eram 1.000RY's na mesa e 1.000 RY's são 1000RY's. O que ninguém ali sabia, talvez suspeitassem, era de que aquele jogo tinha suas cartas marcadas. Pontualmente o garoto expandia sua visão com o Byakugan, oculto atrás dos óculos, e acessava o jogo de todos os presentes. Um observador externo onisciente acusaria Yoshiru de estar roubando, mas a ironia da situação é que, com o Byakugan, o garoto era capaz de perceber que ninguém naquela mesa era santo. Bastava uma visão raio x nas mangas do Caveira para entender que o pilantra carregava dois coringas "só por precaução", o Avô tinha Dona Hasana presa em um genjutsu simples, de forma que a mulher jogava exatamente as peças que o velho precisava e, ainda assim, um zoom microscópico na pilha de dinheiro era suficiente para perceber que os 250RY postos pela senhora eram falsos.

De repente, um corvo surfa na ventania e da um rasante na multidão gritando: "Craw, craw, craw!". Era o alerta vermelho, algum oficial estava se aproximando da jogatina ilegal. Uma intensa movimentação se inicia na claque espectadora, alguns fugiam, outros escondiam seus cachimbos e flagrantes. Quanto ao jogo, 10% do valor total era suficiente para que os fiscais do gabinete olhassem para outro lado. O emissário se aproxima da turba e anúncia: — ROSHIRO! CARTA PARA ROSHIRO. — Não tem Roshiro aqui seu bandalhão! — Vá ver se eu estou na esquina sua cadela de hokage! Contestavam algumas vozes anônimas em meio a risadas e imitações grotescas de cachorro "auuu au au auuu".

A mesa dera de ombros com a anunciação, Yoshiru sequer ouviu o oficial que, enfurecido pela situação se aproximava da mesa. — Saiam da minha frente vagabundos! — Quem de vocês é Roshiro!? Repetia em tom ameaçador até agarrar o garoto pelo braço, pois, de acordo com as informações que haviam sido passadas, aquele deveria ser o gennin marginal. — É uma missão de máxima urgência!! Ríspido, o oficial coloca a carta no peito do garoto e o empurra de volta a sua cadeira. O movimento violento derruba os óculos do garoto, e revela seus olhos brancos e têmporas inchadas. — É UM JUTSU! LADRÃO! Grita um espectador. Os animos florescem, Caveira saca o canivete e, rosnando como um cachorro raivoso, salta por cima da mesa e cai na porrada com Yoshiru. Dona Hasana desmaia ao sair do genjutsu e o Avô, sorrateiramente desliza para debaixo da mesa e rouba o dinheiro. O tumulto toma conta, socos e chutes voam em todas as direções. Caveira rola com Yoshiru na neve porém um movimento do garoto, digno de contorcionista, chuta o canivete para longe. Desarmado Caveira joga sujo e, ao mesmo tempo em que grunia "ladrão" entre os dentes, morde com vigor o ombro do garoto. Os dois se arrastam engalfinhados se afastando da multidão e, com o homem mordendo seu ombro, sua cabeça fica exposta para um golpe Juuken na têmpora. Golpe suficiente para apagá-lo imediatamente e, ainda por cima, deixá-lo leso por pelo menos um mês.

Yoshiru, a alguns metros da confusão, empurra o corpo mole e ossudo de seu oponente para o lado, limpa o suor com a manga e abre a carta que por algum milagre havia ficado presa entre ele e C4V3R4.

"Uma carruagem de uma família nobre se perdeu na neve. O pai conseguiu achar caminho e procurar ajuda, chegando em Konoha muito debilitado. O homem implorou que Aiko enviasse reforços o mais rápido possível para encontrar sua esposa e filho e trazê-los para casa em segurança. O problema é: seria mais fácil se o pobre homem não estivesse desmaiado no hospital e pudesse fornecer informações cruciais para o sucesso da missão. O time deverá rastrear, encontrar e trazer a mulher e a criança em segurança para a vila. Atenção ao tempo. Sejam céleres, pois a tempestade sem fim açoita os quatro cantos do continente, feras selvagem espreitam viajantes desavisados e pela descrição rápida e que foi dada, o veículo atolou numa rota alternativa conhecida por ser usada por foras da lei."

O jovem Hyuuga se levanta energéticamente "UMA MISSÃO!" pensa entusiasmado. O garoto olha para os lados já haviam passado bons 5 minutos, estava com sua bolsa ninja na cintura e raramente trocava de roupa, por isso, corre saltitando em direção aos portões da vila. Enfim, pela confusão, talvez chegasse um pouco atrasado.

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"Rá! Cheguei primeiro... e ainda me chamam de preguiçoso!" Pensa Yoshiru enquanto vê as garotas, uma por uma, chegando ao portão. O garoto logo nota que era o menos preparado do grupo, remexe em seus bolsos indagando se por acaso poderia contribuir com algum utensílio na viagem:  pouco, apenas seu dinheiro, armas ninja, um pedaço de arame engraxado, isqueiro e um maço de gudang garam. O cigarro de cravo ainda não era um vício, mas, na magra, poderia saciar a ânsia por uma refeição e de quebra esquentar o esqueleto.

O garoto levava o cigarro aos lábios enquanto provocava entredentes a sensei:
— tá atrasada ein... Aproveitando-se de seu breve momento como aluno "responsável" quando ouve os passos escandalosos do grupo baderneiro. Pelo naipe das figuras, parecia a trupe do caveira.

– EI! VOCÊ, SEU LADRÃZINHO DE MERDA!
– Eu? Responde baixo, mais para as colegas do que aos acusadores, pois se fazia de perdido para que seu time não pensasse que ele estava metido com aqueles caras. A mentira era boba, um cacoete defensivo, porque no fundo ele sabia, que todos sabiam, que ele sabia: que todos sabiam.
– É! É! Você vai ver! Vamos acabar com você!

Yoshiru dá um passo rápido de recuo, de forma a se alinhar com suas companheiras. Seu instinto de sobrevivência profuso em estratégias pouco heterodoxas haviam lhe ensinado a não poupar artifícios engenhosos para escapar de apertos. Por experiência, sabia que aqueles tipos tanto eram truculentos quanto igualmente pervertidos e burros, no mínimo, hesitariam em confusão com um henge bem aplicado. Não pensem errado do jovem púbere, apenas esta linha de raciocínio explicaria o olhar malicioso que o garoto dava de cima abaixo em Naomi.

Assim, o Hyuuga joga uma bomba de luz aos pés dos capangas e, junto a explosão, dispara 5 kunais em direção de cada um. Aproveitando-se da distração, transforma-se em uma cópia exata da Yamanaka enxuta e se mistura entre as meninas para reforçar o ilusionismo. Caso a estratégia não fosse suficiente para enganar os homens, estaria pronto para esquivar com acrobacias em velocidade máxima.

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– E NÃO VOLTEM!
Finaliza Yoshiru de peito inflado, bradando o punho no ar, esquecendo-se estar ainda transformado em uma desajeitada Naomi de cigarro apagado na boca. Logo na sequência o jutsu de transformação se desfaz e o garoto corre até o brutamontes alvejado para recuperar suas armas. O homem semiconsciente pragueja por sua mãe enquanto o Hyuuga lhe tira as kunais como se fossem espinhas inflamadas, limpa porcamente em seu kimono e guarda em sua bolsa ninja. Terminado o serviço, dá um último chute de desprezo em sua cabeça para apagá-lo de vez, enquanto as meninas se afastavam em direção ao horizonte.

O garoto, alguns metros atrás de seu time, mareja os olhos pensando na velocidade em que Naomi e Yuzu haviam se prontificado para ajudá-lo sem pestanejar ou nem mesmo questionar se havia ou não roubado aqueles homens. Porque talvez sim, por um lado eles tinham razão em persegui-lo, afinal o Hyuuga sempre roubara no dominó, mas as vezes esses motivos e razões eram supérfluos diante do companheirismo de ajudar um amigo.

Yoshiru limpa os olhos com a manga suja e segue o grupo, mal conseguindo engolir a emoção como era tão típico dos meninos que almejavam ser homens.

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– Vocês três, escutem! Não podemos demorar muito tempo nessa missão. A vida de uma mulher e de uma criança depende de nós, então precisamos nos apressar até que essas vidas sejam salvas. Só parem de correr quando eu falar. Nana, guarde suas comidas pra quando fizermos uma pausa. Yoshi, cuide da retaguarda utilizando seus olhos, não podemos sofrer emboscadas. Yuzu, esteja atenta nas laterais. O tempo é crucial para nós. Vamos!  –

O tumulto no beco, o reencontro com seu time e o combate com os capangas de Cavera haviam distraído Yoshiru do objetivo da missão: encontrar a mulher e a criança desaparecidos. A ordem de Mahina era clara, Yoshiru que já estava alguns passos atrás, busca em seu bolso esquerdo os óculos escuros que usava na jogatina, veste o adereço, faz um selo de concentração e ativa o Byakugan.

Óculos de sol deviam ser os itens mais em baixa do mercado de Konoha desde que o inverno tamara conta. A parte de proteger os olhos do possível reflexo do sol na neve, raro dia ensolarado, eram lembranças de um passado luminoso. Dona Hasana, dona do antiquário, devia estar querendo se livrar daqueles óculos quando os apostou no lugar de 100RY. Todos riram da cara da mulher, aquilo não valia 10RY porém ela argumentou que era um giorgio armani, importado de alguma nação além-mar. Yoshiru ao ver os óculos na mesa, aceitou a aposta com a ideia de que se ocultasse seus olhos nunca mais perderia jogos de azar. Dito e feito, mais do que a invencibilidade no dominó, os óculos ocultaram sua identidade e se tornaram uma proteção do peso de carregar os olhos Hyuuga e a maldição de seu pai.

O Byakugan ampliava a visão de Yoshiru infinitamente, era uma sorte divina tremenda! Nenhuma mente humana é capaz de compreender a visão estratosférica 360 graus em raio X num raio de 400m. A quantidade de informação visível acessada de seu entorno era incalculável e, desta forma, nem uma mosca, pegaria o time 3 de surpresa. Nesse passo, Yoshiru ia reportando, em voz alta para a sensei, qualquer coisa que julgasse fora do lugar ou suspeita.

Assim, seguia pulando de galho em galho junto de seu time em direção a Kuragakure. Era a primeira vez que o garoto saía do perímetro de Konoha e seus olhos atentos admiravam toda a informação daquele mundo estrangeiro. – Yuzu-chan é daqui onde você veio? Pergunta curioso pelo passado da colega que estava a sua frente. Afinal, ele apenas sabia que a garota com o sotaque forte era estrangeira e provavelmente de algum lugar frio como aquele.

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Naomi comenta que jamais havia visto o mar, Yoshiru fica pensativo por alguns instantes e percebe que também não tinha tido essa experiência. — Também nunca vi o mar... Comenta o garoto um pouco desconsolado. A resposta de Yuzu havia criado em sua mente a imagem da garota em um convés de madeira olhando através de uma luneta um horizonte azul. — E tem muitos piratas lá Yuzu? Eu adoro histórias de piratas... Pergunta o garoto ao mesmo tempo em que a Yuki aparentava mudar de assunto: "A propósito, Yoshi-kun... Você vê algo nos arredores?" — Eu vejo... Fala aparentando algum esforço mental — acho que é kusagakure!

(...)

Logo Mahina pausa para instruir seus pupílos e Yoshiru aproveita para se hidratar junto a sensei. Com um graveto, no chão, a mulher instrui os gennins sobre uma tática de combate turnada. Yoshiru, como bom estrategista que era, pega outro graveto ao seu lado e começa a também expor seus planos: — Tenho praticado o combate a curto e longo alcance, de forma mais ofensiva... Fala se referindo a tanto o Juuken quanto sua especialidade em shurikenjutsu. — Como no dominó, temos que entender o estilo de combate de nosso inimigo, se ele for grande, forte e lento, o cansamos a distância para somente finalizá-lo de perto... Fala desenhando um bolão no chão e logo em seguida riscando-o com um X. — Alguém que nos ameace a distância, utilizamos bombas de fumaça e a névoa para aproximar o combate e alguém mais rápido e furtivo do que nós mesmos... Fala deixando no ar, sem saber o que pensar neste cenário porque geralmente ele próprio era o mais furtivo de suas brigas de rua. — jogamos com o contra-ataque? — De qualquer forma posso iniciar atacando...

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- Se escondam, rápido! Ordenava a sensei. Yoshiru, que estava a par de toda a movimentação inimiga, entende a ordem imediatamente e responde com um discreto sinal de mãos para o time: aponta na direção do inimigo e depois para seus olhos. Como quem diz, "ele vem de lá"' e "não se preocupem, vou estar atento". Além disso, questões morais ali não eram nada para quem era tão acostumado a dura realidade: esconder-se era seu modus operandi.

Como um gato, o garoto desliza na neve para perto de um tronco caído e transforma-se em um galho seco e retorcido muito semelhante aos demais que estavam espalhados naquele ambiente hostil. Apesar de simples, o truque já havia funcionado outras vezes, porém, não subestimando o shinobi e cumprindo com o avisado aos seus companheiros de time, o garoto não desativaria o Byakugan.

Mesmo escondido, Yoshiru manteria um olhar extremamente analítico ao chakra de Babarebu. Logo, o hyuuga perceberia qualquer mudança decorrente de técnicas de rastreamento. Além disso, sua visão em zoom, aproximaria-se ao máximo da pupila do inimigo, tornando o jovem capaz de analisar com clareza onde o sujeito pousava seu olhar.

(...)

Caso percebesse que Babarebu fixava a visão em si ou qualquer um de seus companheiros e demonstrasse descobrir os esconderijos, o Hyuuga utilizaria sua percepção precoce para agir antes de Babarebu e jogar duas bombas de luz, uma em cada lado do inimigo.

As bombas possuíam dupla função: primeiro - criariam um momento de atordoamento e cegueira dando tempo necessário para que a iniciativa fosse do time 3 e não do mercenário. E a segunda é que, junto com as bombas, o jovem arremessaria 1 shuriken visível na direção do inimigo. O segredo era que o contraste produzido pelos dois focos de explosão de luz, mesmo que apenas por um breve instante, refletiriam de formas extremamente irregulares na shuriken arremessada, criando, em 1 segundo (o segundo do arremesso) múltiplas sombras na arma. Ocultas em todas essas sombras, Yoshiru havia arremessado outras 8 estrelas ninja.

Era seguro afirmar que tal golpe furtivo só era possível devido a fina percepção espacial do Byakugan somado a anos de treinamento em shurikenjutsu. O doujutsu permitia que Yoshiru percebesse exatamente quais seriam os pontos de sombra criados pelos flashes, um de cada lado, a partir de uma arma em movimento. A maestria em shurikenjutsu, permitiria o exato cálculo dos tempos de arremesso das 9 shurikens e, por fim, sua furtividade permitiria que o arremesso das 8 armas ocultas fosse realizado em um movimento único e discreto, como se as 8 shurikens deslizassem de suas mãos para as sombras da que havia sido arremessada primeiro.

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