‘’Técnica de invocação...'' pronunciei várias vezes em tom baixo e ríspido, tentando digerir aquelas palavras e a ideia por trás delas. Durante minhas andanças pelos corredores inóspitos da grandiosa e solene biblioteca do clã Uchiha, deparei-me com um enorme pergaminho encostado na fileira mais alta do local, que se situa no canto mais afastado do lugar. Ignorando a presença da escada ao meu lado, acrescentei chakra às solas de meus pés e, em um impulso rápido, subi as prateleiras até chegar ao objeto desejado, aquele pergaminho que estava me fascinando em um misto de curiosidade com medo: afinal, algo empoeirado e jogado no canto mais afastado e deserto da biblioteca não poderia ser alguma coisa simplória ou banal. Tratava-se de algo único; bom ou ruim.

Com o pergaminho em mãos, desci da grande prateleira em dois passos, retornando a seguridade do chão. Olhei para os lados para garantir que não houvesse ninguém bisbilhotando ou tendo conhecimento de minhas ações irresponsáveis, mas felizmente não havia ninguém -- tudo que podia ser ouvido era minha respiração somada ao vento que batia no telhado do edifício, que jazia numa noite fria e solitária. Percebendo que meu caminho estava livre para sair daquele lugar, abracei o pergaminho entre os braços com ainda mais força e, em ato de coragem colérica, corri para o canto mais longínquo da floresta de Konoha.

[...]

Caminhei por algumas horas em círculos, na tentativa de apanhar qualquer um que estivesse aos arredores tentando me encontrar, mas novamente, não havia ninguém; e mesmo assim o sentimento paranóico de não estar sozinho fazia presença em minha cabeça. Dito isso, ignorei-o e me sentei perto de uma grandiosa rocha cercada da correnteza de um lago cristalino. Ali, o pergaminho foi violado e pude ler todo seu conteúdo com um enorme sorriso estampado de orelha a orelha. ‘’Que conhecimento magnífico’’.

A empolgação foi tamanha que, ignorando as demais linhas explicativas, segui os selos necessários para a técnica: Javali → Cão → Pássaro → Macaco → Carneiro e, milésimos após o último selo, levei minha mão direita ao solo.

- Kuchiyose no Jutsu!

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Assim que minhas palavras foram proferidas, senti algo tirar meus pés do solo e me levantar o suficiente para desequilibrar minhas pernas, que já sem nenhum sustento a não ser uma superfície felpuda e macia que outrora não estava ali, caí em direção ao chão já com as mãos posicionadas para amortecer a queda. Entretanto, antes que isso fosse possível, senti algo pressionar meu tórax com pressão e força descomunal e me balançar duas vezes antes de lançar meu corpo contra uma grandiosa árvore situada no meio da floresta.

Meu corpo encontrou seu destino no meio daquele tronco, o choque foi forte o bastante para me fazer perder os sentidos momentaneamente, trazendo um apagão ocular de vinte segundos. Minhas mãos tremiam e eu cuspi sangue para o lado, tentando acertar o lago com aquele escarro de sangue.

Assim que meus olhos conseguiram recuperar o dom da visão, observei que onde jazia minha presença, agora estava ali, situado com toda sua glória e imponência, um enorme falcão marrom. Sua voz feminina e aveludada me pegou de surpresa, mas sua frase não. Aquela pergunta proferida pelo animal era meu mantra pessoal; todas as noites antes de dormir eu repetia aquela mesma coisa e respondia das mais diversas formas.

Juntei ar em meu pulmão e exclamei, ponto a ponto:

- Podemos ser diferentes, mas temos algo em comum: nós dois amamos a liberdade e odiamos a tirania de estar preso a um lugar para sempre. A diferença é que o senhor possui asas para voar livremente por aí; já a mim, só tenho meus olhos e sonhos. - Levantei-me do chão e fui até ao encontro da ave, ignorando o medo em meu coração e agindo com bravura suficiente para ser coroado como um verdadeiro Uchiha.
- Meu nome é Okada e pertenço ao clã Uchiha, aqueles que são predestinados a mudar o curso do mundo, tanto para o bem quanto para o mal. Mas a diferença reside em meu coração: quero tornar este mundo um lugar melhor para todos, trazendo de volta o equilíbrio da paz que outrora reinou soberana. Mas para isso, precisarei de companheiros leais, poderosos e dotados de enorme coragem. - Cheguei próximo o suficiente do falcão para tocá-lo timidamente em seu peito, afagando-o. - Me ajude, por favor.

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Ouvi com muita atenção tudo que o falcão propôs mesmo não conseguindo disfarçar o sorriso de felicidade comigo mesmo, pois consegui convencer uma criatura tão poderosa e sábia quanto àquela de fazer parte de minha longa e turbulenta caminhada, que eu espero, do fundo do meu coração, que traga novos ares e redenção para o mundo shinobi e seus vassalos -- samurais, camponeses, comerciantes, aldeões, enfim, todos os que não fazem parte diretamente do derramamento de sangue provocado pelas guerras infindáveis que são separadas por breves momentos de paz, tal como a garoa da tarde antecede a tempestade noturna.

Curvei-me em sinal de respeito e admiração, fechando meus olhos e falando em tom entusiasmado e alto:

-  Prometo não decepcionar o senhor! - Então, recuperando minha postura, observei que no intervalo em que meus olhos estavam fechados, um pergaminho foi jogado ao chão pelo falcão. Bem, de acordo com o que li no outro pergaminho enciclopédico da técnica de invocação, o animal invocado oferecerá uma espécie de tratado de sangue assim que a confiança mútua for estabelecida. Meus olhos brilharam quando liguei os fatos.

Ajoelhei-me perto do pergaminho do falcão e levei meu dedão da mão esquerda para a boca, onde mordisquei a ponta com força moderada, suficiente para rasgar o tecido do dedo e fazer o sangue jorrar lentamente. Fechei a mão com o dedo sangrando para fazer o sangue pintar a palma de carmesim. Com a mão tomada pelo sangue, abri-a e levei até o pergaminho, onde deixei as impressões digitais e, finalizando, ainda usei do sangue restante para assinar meu nome. ‘’Okada Uchiha’’.

Após o feito, encarei a figura majestosa e imponente do falcão, deslumbrando de sua aparência. Porém, lembrei-me de uma pergunta importante:

- Qual é o nome do senhor?

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Um simplório bater de asas da ave fez com que um vendaval tomasse conta daquela parte da floresta, erguendo as folhas caídas no chão e dissipando a neve presente no entorno. Fechei os olhos e agucei meus outros sentidos na tentativa de, por alguns segundos, sentir o último resquício da presença daquele ser lendário e majestoso.

O crepitar das árvores e o balançar das folhas foram interrompidos pela voz profunda do falcão que rompeu o silêncio da noite com suas últimas falas. Então o bater de asas foi ganhando distância até se tornar um barulho quase nada audível, como uma memória distante.

Abri os olhos. Contemplei tudo aquilo que havia acontecido com um singelo sorriso escancarado no rosto, sorriso de orgulho e surpresa. Agora, terei um aliado poderoso e magnânimo ao meu lado, alguém que me julgou digno.

Terminei os breves divagos colocando um pedaço de chocolate na boca, que antes residia em meu bolso. - Minha mãe vai ficar orgulhosa. - Cochichei entre os dentes e rumei em direção ao vilarejo.

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